Presencial ou Remoto. Depende. Você consegue enxugar gelo remotamente?
Recentemente veio à tona a frase da diretora de recursos humanos da Spotify, Katarina Berg:
“Our Employees Are Not Children” (“Nossos Funcionários Não São Crianças”)
Na entrevista, argumentou que o trabalho remoto na Spotify não afetou negativamente a produtividade ou a eficiência; que não pode gastar muito tempo contratando adultos e depois tratá-los como crianças.
Quando o pessoal binário lê algo assim, geralmente segue uma discussão sem fim: presencial ou remoto, qual a sua opinião?
Eu sempre respondo: depende. Você consegue enxugar gelo remotamente?
Bombeiro, equipe de limpeza e a maioria do time de infraestrutura de TI não trabalham remotamente.
A realidade para muitos departamentos de tecnologia é de pouco recurso devido aos baixíssimos orçamentos. Eu já estive à frente de times de TI com 4 heróis que faziam de tudo, com mais de 400 usuários, sendo 130 lojas espalhadas pelo país. Marketing fazendo a marca parecer grande, mas ninguém imaginava a minha “briga” por um orçamento decente que fizesse jus ao volume de trabalho e necessidades da empresa em termos de tecnologia.
Quando um dos colegas estava trabalhando remotamente durante um problema de infraestrutura de TI, o restante do time tinha que parar tudo o que estava fazendo e se desdobrar para atender a demanda. Nesses lugares, home office é um estresse porque usuário nenhum quer saber quem ficou trabalhando remotamente, quer o problema resolvido.
Temos outra realidade que alguns Faria Limers queridos – que só pisam do carpete de casa para o do carro – não conseguem entender, é que tem um pessoal que passa diariamente, 2h, 4h ou mais em trajeto casa-trabalho-casa, com baldeações intermináveis em transporte público e poderiam estar trabalhando a partir de casa. Isso tudo porque generalizam os empregados baseados no achismo de quem fica em casa, não faz nada ou produz menos.
E o que falar do pessoal que trabalhei e que pediam para vir ao escritório todos os dias? Eles abriam mão da liberdade de trabalhar remotamente porque muitos diziam que não tinham um ambiente de trabalho em casa, dividindo espaço com mais 5, usando a única mesa disponível na cozinha e com a internet roteada do celular. Algumas empresas ainda mandam para seus funcionários, cadeiras confortáveis e custeiam a banda larga de internet, mas convenhamos, não é a realidade da maioria.
Por isso o “depende”. A inteligência está na complexidade de entender diferentes realidades. Se a empresa é grande demais e não tem como atender caso a caso, que tal criar 2 ou 3 modelos, definir as regras e ver quem se encaixa nelas? Alinhar com o sindicato. Sempre vai ser mais difícil que responder sim ou não.
Para descontrair um pouco, trouxe para vocês um compilado de fotos do que eu já vivi no passado, essas coisas que o trabalho remoto não permite resolver. Essa empresa praticava o “T.I. Barata, Resultados Caros” e o orçamento não permitia que nosso CPD, repleto de equipamentos, tivesse um aparelho de ar-condicionado profissional. O equipamento ficava ligado direto e por ser solução caseira, ficava ocasionalmente sem gás, formando mais gelo que sua máquina de chope. Quando ele desligava sozinho, ainda vazava água no piso elevado que cobria os fios elétricos e de rede, risco de incêndio, curto-circuito ou qualquer coisa ruim nesse nível. Nesse dia das fotos, o recurso responsável estava remoto, cheguei e me deparei com as pás ainda funcionando, parecia show da Frozen® com gelo lançado para todos os lados.
É, sei muito bem que não dá para enxugar gelo remotamente.